
O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta sexta-feira (29) que a cultura no Brasil precisar “estar de acordo com a maioria da população”, ao ser questionado se manterá à frente da Fundação Cultural Palmares o jornalista Sérgio Nascimento de Camargo.
Nomeado na quarta-feira (27) para presidir a fundação, que tem entre suas missões promover a cultura afro-brasileira, Camargo pediu o fim do movimento negro e afirmou que a escravidão no Brasil foi “terrível”, porém “benéfica para os descendentes” (leia mais abaixo).
A fundação Palmares fica na estrutura da Secretaria Especial da Cultural, o antigo Ministério da Cultura. A secretaria integrava o Ministério da Cidadania, mas foi transferida para a pasta do Turismo.
“O secretário [da Cultura] é um tal de Roberto Alvim, dei carta branca para ele. A cultura nossa tem que estar de acordo com a maioria da população brasileira, não de acordo com a minoria”, disse.
Questionado se concordava com as declarações do novo presidente da fundação, Bolsonaro disse que não entraria em “detalhes” e reforçou que as decisões na área da cultura são de Alvim.
“Ponto final. Ele [Alvim] que decide. Não vou entrar em detalhes. Tenho um despacho semanal com ele, só vou responder alguma coisa depois de ouvi-lo”, disse.
O presidente já havia sido questionado sobre o assunto nesta quarta-feira (28). Em entrevista à imprensa na portaria do Palácio da Alvorada, Bolsonaro disse não conhece pessoalmente o novo presidente da Fundação Cultural Palmares (veja no vídeo abaixo).

Jair Bolsonaro comenta escolha de novo presidente da Fundação Cultural Palmares
O jornal “O Globo” publicou reportagem com declarações de Sérgio Nascimento de Camargo nas redes sociais sobre movimento negro, escravidão e racismo, entre outros temas. Militante de direita, o jornalista é crítico de políticas de esquerda.
Camargo defendeu o fim do feriado do Dia da Consciência Negra, que, na sua opinião, foi instituído para o “preto babaca” que é um “idiota útil a serviço da pauta ideológica progressista”.
Em agosto, Camargo publicou que a escravidão foi “terrível, mas benéfica para os descendentes”, já que negros viveriam em condições melhores no Brasil do que na África.
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Publicação do jornalista Sérgio Nascimento de Camargo, novo presidente da Fundação Cultural Palmares, em rede social — Foto: Reprodução
No mês seguinte, ele escreveu que no Brasil há um racismo “nutella”, enquanto nos Estados Unidos o racismo seria “real”. “A negrada daqui reclama porque é imbecil e desinformada pela esquerda”, disse.
Procurada pelo G1 a respeito das declarações de Nascimento, a Secretaria Especial da Cultura informou na quinta-feira, em nota, que um dos “principais desafios” do novo presidente é “desaparelhar” a fundação e “direcionar o dinheiro público para o desenvolvimento de políticas públicas que protejam e incentivem a verdadeira cultura negra”.
A nota não deu exemplos de quais seriam as políticas públicas que incentivariam a “verdadeira cultura negra”. A secretaria ainda disse que Nascimento trabalha para libertar os negros da “mentalidade” que os “escraviza ideologicamente”, o que, afirma a pasta, gera “dependência” de políticas de cotas e de assistência social.
Independentemente das polêmicas em torno da nomeação, a cúpula da Procuradoria-geral da República (PGR) diz que não há elementos jurídicos para anular indicação do presidente da Fundação Cultural Palmares, de acordo com a apuração da repórter, Andréia Sadi.